Iniciando os trabalhos
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Iniciando os trabalhos
”Ilustres Senhores, ninguém poderá duvidar das minhas intenções, pois condenado como estou pela medicina, nada pretendo para mim. Profissionalmente me faltarão as forças necessárias para qualquer iniciativa. Assim, não peço para mim, mas para meus patrícios, para milhares de brasileiros que, pelo interior, são vítimas do mesmo mal que me acometeu. Sinto forças morais para pedir, porque conheço a sensação de ser presa dessa moléstia terrível, pedir ao povo e ao Governo que me auxiliem a morrer tranqüilo, com o conforto de haver feito algo, ao menos pela Paraíba, neste setor que abracei como especialidade -de luta contra o câncer. Quero, portanto, ver fundado um centro de combate ao câncer, em João Pessoa, na Paraíba, ainda antes de morrer, se a sorte me permitir”.
O Dr. Mário Kroeff, entre outras considerações disse o seguinte: “Acho edificante ter um homem os dias contados e estar ainda pensando no próximo. Qualquer outro indivíduo, em melhores condições, já se encontraria no fundo de uma cama, ditando suas últimas disposições, entregue à fatalidade. O comum na vida é haver uma reação natural de revolta nas criaturas, em face da dor e do infortúnio.
Este homem, já com suas forças físicas alquebradas, ainda sente forças morais capazes de levantarem sua própria matéria para conduzir uma campanha como esta, que serve de exemplo vivo a todos, exemplo tétrico que ora é focalizado, e para o qual devemos chamar a atenção do público, do governo e dos afortunados”.
Em pouco tempo as emissoras de rádio anunciavam que a população carioca estava se manifestando inteiramente solidária com a bandeira de luta de Napoleão Laureano e por isto a arrecadação de donativos já atingia elevado valor financeiro. Por esta razão, foi proposta a criação de um órgão para ficar responsável pelos recursos arrecadados.
O Dr. Sérgio de Azevedo sugeriu a criação da Fundação Laureano ou Fundação Napoleão Laureano. A primeira Diretoria ficou assim constituída : Diretor Presidente- Jornalista Pompeu de Souza, Vice-Presidente – Dr. Amadeu Fialho; Diretor Tesoureiro – Dr. Ruy Carneiro; Diretor Executivo- Dr. Mário Kroeff; Diretor Secretário- Dr. Jorge Sampaio Marsillac. Na Presidência de Honra foi confirmado o nome da Sra. Darcy Vargas e na Vice-presidência de Honra o nome do Jornalista Assis Chateaubriand.
No dia 31 de Maio de 1951, às 20h30m faleceu, no Hospital Gafrée e Guinle , o médico Napoleão Laureano. Com o correr do tempo, alguns membros da Diretoria inicial renunciaram, a exemplo de professor Amadeu Fialho e do Jornalista Pompeu de Souza. É bom frisar que Mário Kroeff, Jorge de Marsillac e Ruy Carneiro permaneceram no comando da Fundação Laureano até a concretização do ideal de Napoleão Laureano – a inauguração do Hospital de Câncer, em João Pessoa, na Paraíba.
É indispensável registrar que o então Deputado Federal Janduhy Carneiro foi eleito Diretor Presidente da Fundação Laureano e, na realidade, deu uma contribuição das mais valiosas para que o nosso Hospital de Câncer pudesse ser inaugurado. Foi ele o autor do Projeto de Lei que abriu um crédito de 100 milhões de cruzeiros, quantia esta que foi distribuída pelo Serviço Nacional de Câncer com as diversas entidades de combate ao câncer de nosso País.
Aqui já podemos mostrar os bons resultados da luta encetada pelo médico Napoleão Laureano. Foi graças ao seu desprendimento, a sua dedicação e amor ao próximo, que se criou uma nova consciência de apoio à luta contra o câncer no Brasil. O eminente Presidente Getúlio Vargas, sensível aos anseios populares, sancionou o Projeto de Lei de iniciativa do Dep. Janduhy Carneiro e o Serviço Nacional de Câncer passou a dispor de recursos financeiros possibilitando, assim, a conclusão do Instituto Nacional do Câncer, na Praça da Cruz Vermelha, no Rio de Janeiro, bem como numerário suficiente para a conclusão do Hospital de Câncer de nossa Capital além da ajuda a diversas outras entidades espalhadas pelo território brasileiro.
Acreditamos que Napoleão Laureano jamais tenha imaginado que sua bondade pudesse resultar em tantos proveitos para a luta contra o câncer no País. Napoleão Laureano desejava um centro de combate ao câncer em João Pessoa e chegou a expressar o seu desejo em ver construída uma enfermaria no Hospital São Cristóvão, depois denominado de Newton Lacerda, onde trabalhou ao lado do então diretor e seu colega amigo Dr. Newton Lacerda.
A idéia cresceu e resultou na construção do Hospital Napoleão Laureano, que hoje, ocupa uma posição de destaque entre os nosocômios especializados do Brasil. A entidade não somente está bem equipada, mas possui uma equipe multidisciplinar do mais alto valor intelectual.
O professor Asdrúbal Oliveira, em certa ocasião se pronunciou, dando um abalizado depoimento, quando declarou: “O atendimento ao paciente de câncer na Paraíba tem duas fases bem distintas, uma antes e outra depois da inauguração do Hospital Napoleão Laureano. Na primeira, o canceroso ficava debaixo das mangueiras na Praça Caldas Brandão, em frente ao Hospital Santa Isabel e na segunda, o canceroso passou a ser recebido, examinado e tratado com zelo e carinho no Hospital que Napoleão Laureano tanto desejou edificar.
Na ocasião que comemora-se o cinqüentenário de criação da Fundação Laureano podemos dizer que a entidade, apesar das grandes dificuldades vivenciadas nos longos anos de sua existência, é vitoriosa por tudo que já conseguiu realizar. O Hospital Napoleão Laureano além de sua nobre e árdua missão de tratar os pacientes com câncer, vem sendo um excelente centro de ensinamento aos médicos e aos profissionais da área da saúde. Ele tem colaborado, inclusive, com a Universidade Federal da Paraíba.
Parabéns a todos que confiaram, apoiaram e realizaram o sonho do grande médico e mártir Napoleão Laureano.
Assim nasceu a Fundação Laureano
No dia 17 de março de 1951, na sede do jornal “Diário Carioca”, no Rio de Janeiro, realizou-se uma Mesa Redonda solicitada pelo próprio Dr. Napoleão Rodrigues Laureano, que se esforçava para expressar o desejo de ver construído, em João Pessoa, na Paraíba, um centro de combate ao câncer.
Naquela ocasião, estavam presentes os jornalista Danton Jobim e Pompeu de Souza, Dr. Simões Filho, Ministro da Educação e da Saúde, os médicos Mário Kroeff, Diretor do Serviço Nacional de Câncer, Alberto Coutinho, Jorge de Marsillac, Osolando Machado, Antonio Pinto Vieira, Adayr Eiras de Araújo, Sérgio de Azevedo, Turíbio Braz e Fernando Gentil, entre outras pessoas.
Os trabalhos foram transmitidos pela Rádio Mayrink Veiga e Rádio Nacional, que abriram uma campanha para angariar recursos destinados a luta contra o câncer, conforme desejo do médico paraibano.
Napoleão Laureano que retornara dos Estados Unidos desenganado pela medicina, mostrava, com o seu gesto, a grandeza do seu coração, a magnitude de sua solidariedade aos seus semelhantes, especialmente os mais humildes.